quinta-feira, 8 de março de 2012

TockUmRock Entrevista - André Dea


Baterista das bandas Sugar Kane e Vespas Mandarinas, indicado a “Baterista do ano” em 2008, 2009 e 2010 por críticos do Site Zona Punk e um músico de peso na cena de rock underground nacional, o entrevistado desse post é André Dea.

Para começar: Quem te inseriu no mundo da música? Quem te fez gostar de música?
Desde pequeno meus pais me incentivaram a apreciar música. Eles ouviam grandes discos em casa e eu ouvia com eles. Meu pai toca violão muito bem e meus dois avôs também tocavam. Sempre tive algum instrumento musical por perto e isso estimulou minha curiosidade.

Qual foi o primeiro rock que você lembra ter ouvido? O que mais te chamou a atenção nessa música?
Não lembro do primeiro, mas um que me fascinou foi Jailbreak, do AC/DC. Quando ouvi essa música pela primeira vez eu pirei. Senti alguma coisa diferente. E o que mais me chamou atenção foi o riff de guitarra, executado pelo Malcolm Young. É incrível!

Quando e como você começou a se interessar em tocar bateria?
Eu devia ter uns 12, 13 anos quando começei a gostar de bateria. Eu gostava de batucar nas coisas, mas nunca tinha chegado perto de uma bateria. Com essa idade, ingressei em uma fanfarra e comecei a tocar caixa (repique). Foi aí que tive meu primeiro par de baquetas e comecei a fazer um som num sofá da minha casa, acompanhando discos que eu curtia. Depois de furar o sofá inteiro e acabar com ele, comecei a fazer aulas, em 2000. Estudei por 4 anos com o Joel Jr., um grande músico e educador de Curitiba.

Você percebeu que poderia ganhar dinheiro com isso ou tocar bateria foi a última opção?
Tocar bateria foi minha primeira opção, na verdade. Quando você começa você não pensa no dinheiro, você apenas se sente muito bem fazendo aquilo. Não é esforço algum pra mim sentar diante de uma bateria e tocar por horas a fio, eu amo isso.

Desde a década de 90, o Sugar Kane tem claras influências de hardcore. Na década de 2000, com o auge da moda “emo”, muitas bandas hardcore foram taxadas injustamente de emocore. Quanto o movimento “emo” ajudou e o quanto atrapalhou a trajetória do Sugar Kane?
Com relação à trajetória do Sugar Kane, acho que o movimento emo não ajudou e nem atrapalhou em nada. Apesar de a maioria das bandas desse estilo ter surgido dentro da cena hardcore,  a principal mudança que rolou foi o fato de que, quando algumas delas começaram a despontar, isso voltou os olhos de muita gente – e de muitos empresários e gravadoras pra essa cena. Ela se tornou extremamente visada. Só que isso não elevou o patamar da cena ao mainstream. O que rolou foi que o mainstream começou a descer até o underground. 

Há quem diga que a estrada pode ser muito perigosa, ao mesmo tempo em que pode ser como uma mãe. Você pode citar alguma coisa que você sente que perdeu na estrada e outra que você aprendeu estando nela?
O mais difícil foi mudar de cidade, deixar pessoas importantes pra mim em Curitiba e vir morar em São Paulo. Entretanto, a estrada sempre trouxe coisas boas. A oportunidade de poder estar em 3, 4 cidades diferentes a cada semana fazendo shows é demais, eu curto muito. E você aprende a cuidar de si mesmo também. Tive que aprender a me virar morando sozinho e viajando por aí.

Como surgiu o convite de tocar nas Vespas Mandarinas? E como estão os preparativos para o primeiro álbum?
O Sugar Kane produziu um EP com o Chuck (vocalista e guitarrista das Vespas) em setmbro de 2010 e nos conhecemos aí. Eu já tinha ouvido algumas músicas das Vespas na internet e gostava do som. No final daquele ano, em dezembro, o baterista e baixista antigos saíram e o Chuck me ligou pra eu “quebrar um galho” em um show. Eu aceitei e quando fomos ensaiar pela primeira vez, ainda no carro a caminho do estúdio ele me disse “então... eu e o Thadeu queremos que você seja o baterista das Vespas Mandarinas. O que vc acha?!” e eu topei na hora! Fiquei muito feliz porque o Chuck e o Thadeu são extremamente talentosos e tocar com eles tem sido uma experiência ótima.
Quanto ao disco, ele já está com o repertório praticamente definido e nós estamos ensaiando muito pra arredondar todos os arranjos. Essa é a hora em que a ansiedade vem pra ficar. A gente não vê a hora de se trancar no estúdio e começar pra valer.

Como é trabalhar em duas bandas de estilos diferentes (Sugar Kane e Vespas Mandarinas)? E como arranjar tempo para as duas?
É muito divertido! O Sugar Kane é intenso e me exige muito mais fisicamente do que qualquer outra atividade que eu faça. Já as Vespas tem o som mais cadenciado, com mais espaços, então, é puro feeling. Apesar disso, as duas são bandas de rock e pra mim é extremamente gratificante poder fazer parte delas. Curto muito e aproveito as particularidades de cada uma. Quanto ao tempo, planejamos sempre as agendas pra conciliar tudo.

Recentemente você lançou um site que faz uma espécie de apresentação do seu trabalho. Como surgiu essa ideia e quem te ajudou a concretizá-la?
Pois é... há bastante tempo eu estava com a idéia de gravar um vídeo fazendo um solo de bateria porque eu só tinha um, de 2007, rolando na internet. O lance principal, como você mencoinou na pergunta, é a divulgação do meu trabalho, sabe? Acho que é uma coisa que gera muitas respostas positivas e isso sempre é bom.
Com relação ao vídeo, só tive bons amigos envolvidos e o site quem desenhou foi o Capilé (vocalista e guitarrista do Sugar Kane) que além de músico é designer e manda muito bem!




Você enxerga alguma perspectiva positiva para o rock no Brasil nessa década que está apenas começando?
Claro! O Brasil tem algumas bandas muito boas de rock. Umas novas, umas mais antigas. Acho que o grande público está começando a dar bastante atençao a elas. E acredito que essa década terá muita coisa boa a oferecer aos fãs do rock nacional.

Explique para os leitores do blog o que é Patcharas.
Patcharas, segundo meu brother Dieguito (baterista da Vivendo do Ócio), “é o dono na tribo, man”!

Nessa parte eu perguntei ao André, qual pergunta ele gostaria que eu tivesse feito e não fiz, e pedia a ele que respondesse essa pergunta.

Qual é o top-5 dos seus bateristas favoritos?


Stewart Copeland (The Police): O modo como ele misturou o rock com levadas de reggae é incrível. Improvisa o tempo todo e sua mão direita conduzindo é brilhante. 

John Bonham (Led Zeppelin): Um gênio, que tocava como um trovão. Seus grooves e o som de sua bateria são algumas das coisas mais impressionantes já feitas na música.

Phil Rudd (AC/DC): Não é O QUE ele toca, mas COMO ele toca. Consegue ter o swing de uma locomotiva em algumas das levadas mais simples do rock'n roll.

Travis Barker (blink-182): Outro batera genial que influenciou milhares de bateristas da sua geração, não por acaso. É exremamente criativo, inventa grooves de tirar o fôlego e usa um set extremamente simples.

Dave Grohl: Todas as gravações em que ele toca bateria têm algo diferente e são incríveis. Suas levadas são extremamente simples, mas, muito bem desenhadas. E quando ele resolve tirar coelhos da cartola, como na intro de A Song For The Dead (do Queens of The Stone Age), por exemplo, o negócio fica mais sério ainda.


André, muito obrigado pela entrevista. Boa sorte e bom trabalho.

Obrigado! Valeu pelo espaço e até a próxima! 

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